sábado, 16 de fevereiro de 2013

Álcool é droga sim


 

Álcool é droga sim


Ele embriaga, entorpece, aliena, anestesia a consciência, enfraquece as relações, corrói a vontade do sujeito, mina as possibilidades afetivas da pessoa, inviabiliza a convivência, libera as pulsões agressivas e anticivilizadas, estraga relacionamentos familiares. Além da medida o álcool provoca em nós o que devíamos manter guardado e sob controle, ou seja, nossas deselegâncias internas. Em pessoas muito resolvidas, ele pode até não produzir tais efeitos, mas pessoas de fato resolvidas não se entregam a bebida além do limite da adequada convivência pessoal ou social. É o limite ferido pelo excesso de bebida que produz mal-estar, ao sujeito a saúde e as relações com os outros.
O contexto social é cada vez mais estimulador desse tipo de conduta entorpecida. Beber tornou-se um comportamento referencia a gente jovem e feliz, de gente que sabe viver, que nem tem tempo pra dormir, que tem mais é que gozar a vida, mesmo que sorvendo-a em grandes goles de alienação. No imaginário da Sociedade do Espetáculo, "ser bom de copo" ser daqueles que encaram todas as doses ganhou perfil de gente sarada. Nesse contexto beber com limites pode parecer caretice.
É abusiva e enganosa a propaganda que os meios de comunicação veiculam a bebida, mostrando-a sempre como produtora de um estado ideal de bem estar. O estrago que o excesso promove é ocultado, os efeitos corrosivos e desfigurantes que a bebida produz no corpo e no espírito da pessoa são omitidos. (...) Ante o indivíduo seduzido pela bebida e pela propaganda, fica frágil e inoperante qualquer discurso familiar acerca de limites. A propaganda precisa assumir compromisso com os valores da cultura e, não, destituí - los.
De mansinho, o ato de beber vai sendo imposto numa sutileza comercial muito estética, aparentemente inocente, natural como o ato de beber água. É nesse astral de graciosa naturalidade que a bebida vai se resenhando como um estilo de vida feliz.
A bebida em seus excessos tem - se tornado um esconderijo das falhas que deveríamos modificar, da ansiedade que deveríamos tratar, da angústia cuja origem deveríamos conhecer, do próprio vazio que tememos descortinarem nós. Quanta bebida será necessária para preencher esse poço sem fundo do vazio humano? Em todo consumo abusivo, o grande lucro será dos fabricantes, e o prejuízo será sempre do consumidor. É a voracidade de ambos que os desumaniza.
(Amparo Caridade. Diário de Pernambuco, 5/04/2002. Adaptado.).

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